segunda-feira, 11 de janeiro de 2010



O Retrato de todos


Imagine um jardim abandonado com um lago e uma ponte que magnificamente está de pé, devido à força de raízes entrelaçadas. No lado direito da ponte no sopé do morro, uma casinha velha.
A porta está entreaberta e no canto, do único cômodo da casa, há um pote sustentado por uma forquilha de três pontas e apenas um copo pendurado por um barbante amarrado no caibro redondo de marmeleiro, lavrado ali mesmo do mato que circundava a casa na época da construção da singela morada.
No centro uma velha sentada no chão, pastorando os últimos grãos de feijão a borbulhar numa panela de barro feita pelas suas próprias mãos. As toras de lenha seca queimam e a fumaça quase que impede a visão de seu semblante peculiar a alguém que já passa dos oitentas anos, que mais parecem quilos sobre a sua estrutura magra segurando um cachimbo de madeira e ao mesmo tempo olhando ao retrato de todos pendurado na parede sem reboco e sem cor definida.
O sol esconde a sobra do casebre, e a cigarra começa a ensaiar seus primeiros gritos de meio dia. Mais um dia normal para quem acha que quanto mais simples e lenta for à vida, tanto quanto viverá.
A memória nos mostra retratos e a vida amplia-os em molduras eternas.

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